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Este título deve estar dando arrepios em muita gente. Sei em que muitos colegas meus, profissionais de Educação Física, acreditam numa dicotomia perfeita entre Atividades Físicas Educativas e Esporte. Acreditam eles que Esporte não educa, ao contrário, somente deseduca: suscita nos alunos uma competitividade que só desemboca em atitudes hostis entre os alunos, a valorização do ganhar a qualquer custo, os privilégios dos mais habilidosos sobre os menos hábeis, etc. Somente as atividades essencialmente participativas (não competitivas) e até cooperativas é que seriam úteis para um projeto de educação integral através da atividade física.
Tenho passado a minha vida profissional inteira argumentando que essa é uma visão míope da dinâmica entre professores e alunos, e empobrecedora de nosso papel neste contexto. Estou convencido de que o que definirá se uma determinada atividade será educativa e formativa, ou se será apenas suor e ATP gastos à toa serão a conduta e o discurso do profissional que conduz a atividade, e não a atividade em si.
Isso equivale dizer que pode perfeitamente haver atividades esportivas fortemente educativas e atividades físicas não esportivas absolutamente inócuas ou até perniciosas, dependendo de como o professor ou técnico se porta durante a sua realização. Notem que esta visão coloca em nossas mãos grande responsabilidade e, por isso, devemos estar prontos para ela.
Eu diria mais, diria que as atividades esportivas têm uma vantagem adicional sobre outras quaisquer para que o profissional tire delas lições de vida preciosas para seus alunos: o forte envolvimento emocional que elas trazem em si mesmas. É no calor das disputas esportivas que o Profissional de Educação Física precisa estar atento para colocar-se e ressaltar aspectos relevantes para a consolidação do caráter de seus alunos, pois a carga emocional envolvida na disputa se incumbirá de gravar a fogo nos corações e mentes dos pequenos tudo que for dito e feito naqueles instantes dramáticos.
É por isso que nunca esquecemos o primeiro beijo, a primeira namorada, a primeira transa, e assim por diante. Porque são momentos emocionalmente intensos. E o esporte é, via de regra, emocionalmente intenso, muito diferente de inúmeras aulas de Educação Física que já assisti: mornas, desinteressantes, repetitivas, sem um pingo de motivação. Algum aluno estará assimilando algo de bom e construtivo num ambiente desse?
Evidentemente cuidados especiais precisam ser tomados: regras especiais precisam ser elaboradas, dinâmicas específicas tem que ser implementadas para que as atividades esportivas não descambem para o ganhar a qualquer preço e ponto final. E isso dá trabalho, pois exige planejamento, atenção e envolvimento.
Para citar apenas um exemplo simples eu diria que um cuidado especial que deve ser tomado é com a conduta que os profissionais adotam nas competições. Já presenciei muitos colegas que, depois de se comportarem educadamente por semanas nas aulas e nos treinos, deixam-se arrebatar nos dias de disputa e perdem completamente o controle (e a compostura) justamente no dia do jogo, do festival ou da competição.
Oriento meus monitores na EEFEUSP que quando vamos aos Festivais de Natação com nossos alunos, que não temos o direito de nos perder neste aspecto. Podemos até torcer discretamente, mas lá continuamos a ser educadores e nossa conduta continua balizando a de nossos alunos, e eles mais do que nunca, necessitam do nosso apoio incondicional e nossa orientação. Brigar, discutir, bater-boca? Jamais. Torcer apaixonadamente? Isso é para pais, amigos e outros parentes.
De minha curta e discreta vida esportiva trago até hoje ensinamentos fortes, muito mais do que aqueles advindos de minha educação física. E olhe que eu fiz educação física na escola na década de...bem...deixa pra lá.