quarta-feira, 17 de março de 2010

FALANDO SOBRE ESTÁGIOS...


Mais um excelente artigo do Prof. Bona no blog DENTRO D'ÁGUA (clique para ir ao blog), falando de algo tão real e intrínseco no nosso dia-a-dia - o estágio.


Uma situação muito comum em Academias de todo o país é a utilização de estagiários que, ajudando os profissionais efetivos da casa, contribuem para melhorar o nível do atendimento aos alunos. Especialmente na Natação, esta é uma estratégia muito utilizada, apesar das críticas (por vezes acertadas) de que isso representa um aviltamento das condições de trabalho de nós profissionais, já que o estagiário representa, em última análise, mão de obra barata.

Incrível é que, muitas vezes, a confusão entre estágio e trabalho é perpetuada pelos próprios estudantes de Educação Física, que na ganância por um dinheirinho que lhes alivie o bolso e no ardor de inserir-se no mercado de trabalho, submetem-se ao “pseudo-estágio” (que na verdade é um sub-emprego) esquecendo-se que nas proximidades de sua graduação a primeira providência da empresa mal-intencionada será demití-los sumariamente e substituí-los por outros incautos.

O aluno pode achar que mesmo que isso ocorra ele nada perdeu, mas perdeu sim: ele está prestes a entrar num mercado de trabalho descaracterizado e muito mais difícil pela sua própria atitude inconseqüente.

Bem, para mim tudo começa por uma mal entendida caracterização do que seja o estágio e quais os seus objetivos e características essenciais.

Estágio não é trabalho, é uma ótima estratégia de aprendizagem que coloca o aluno em contato direto com a sua realidade profissional, para que ele complemente seus conhecimento de sala de aula, sem contudo que ele possa se responsabilizar formalmente por nada. Aqui, a primeira coisa importante a ser dita: como toda estratégia de aprendizagem, é necessário que no local de estágio haja um professor graduado que atue como tutor ou supervisor do estagiário, a quem ele se reportará sempre e que se responsabilizará por tudo que o estagiário fizer.

Portanto este professor só poderá delegar pequenas tarefas ao estagiário, desde que esteja sempre presente para supervisioná-las de corpo presente e em tempo real. Estagiário dentro da piscina apenas auxiliando aqueles com mais dificuldade e supervisor ministrando a aula, existe. Estagiário na piscina sozinho com os alunos e supervisor na sala da coordenação fazendo outras coisas, não existe!

As diferenças mais essenciais entre estágio e emprego são duas: responsabilidade (que já foi dito) e remuneração. No trabalho você tem a sua cota de responsabilidade pelos alunos, atletas, clientes, etc. que lhe são confiados: você planeja, executa e avalia. No estágio não. Tudo o que um estagiário faz é de responsabilidade de seu supervisor.

No trabalho há uma remuneração, ou seja pagamento como contrapartida aos serviços prestados COM RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL. No estágio não: o pagamento do estagiário é (ou deve ser) o conhecimento que ele adquire em contato com a atuação de profissionais já formados e mais experientes. Algumas empresas estimulam seus estagiários com uma ajuda de custo, que é uma remuneração que visa somente aliviar os custos de transporte e alimentação. Aluno que precisa fazer alguma coisa para ajudar a pagar sua Faculdade de Educação Física não está precisando estagiar na área, está precisando trabalhar em qualquer outra atividade até que se gradue. Se, além disso, conseguir também estagiar em um local que lhe dê uma ajuda de custo, tanto melhor.

Nos casos em que o estágio dure um tempo considerável (alguns meses), após este período, o professor supervisor pode até solicitar ao estagiário que conduza sozinho um aquecimento, ou que supervisione um final de aula lúdico de seus alunos, mas isso para que ele (professor) possa fazer algo diretamente relacionado a aula, e sem se ausentar da piscina, como: atender uma mãe com dúvida, ajudar um aluninho que esteja chorando por qualquer razão, recepcionar um aluno novo que lhe mostre sua avaliação física, etc. “Dá esse aquecimento pra mim que eu vou na lanchonete tomar um cafezinho”, não existe!

De nada adianta investirmos tempo e dinheiro em nossa formação profissional, se na hora de começarmos a atuar, iniciamos depreciando nossa própria condição profissional.

Opinião: Com aumento expressivo das faculdades de educação física e da quantidade de novos profissionais a cada ano, corremos o risco de destruir o nosso ganha-pão. Hoje vemos novos profissionais trabalhando por qualquer esmola (já vi academias pagando R$ 3,40 a hora/aula) e muita gente aceitando. Vêm-se com o papo de que todos precisam trabalhar, mas o que acontece é que cada vez mais temos que trabalhar mais, ganhando menos. Isto arrebenta com a qualidade das nossas aulas e, principalmente das nossas vidas.

Precisamos nos valorizar para sermos valorizados, ou vocês acham que um médico ou advogado, ou engenheiro, ou qualquer coisa, trabalha por R$3,40 a hora?

Prof. Rogerio Mixirica Nocentini

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