Renato Pachú
Bom dia Renato.
Isso realmente é uma coisa que acontece demais na natação brasileira. Brigo contra isto há muito tempo e é uma situação que tem vários "culpados", se posso dizer assim.
Ministrar treinamentos para as crianças nas categorias de base é muito fácil, o que você der de carga, eles aceitam e querem mais. Isto faz com que alguns treinadores se empolguem com a situação e mandam ver nos treinamentos. Se a criança desponta um pouquinho mais, lá vem carga de treino e, nenhum ser humano suporta isto por muito tempo.
Temos também o problema dos pais que querem ver seus filhos campeões. Muitos não pensam à longo prazo e não imaginam o que a criança poderia fazer em alguns anos, então cobram pressa na formação da criança e a maioria dos profissionais da área também não informam os pais ou, quando informam, são taxados de ruins e ficam sem o atleta.
A questão da maturação também é um fator importante. Os indivíduos maturam em tempos diferentes, então uma criança que amadureceu precocemente levará vantagem sobre outra que ainda não amadureceu. Falo em fatores como força, por exemplo. Isto pode ser muito notado nas categorias Infantil e Juvenil (13 a 16 anos), onde percebemos uma inversão na curva dos campeões. Atletas que ganhavam tudo, deixam de ganhar e atletas que eram coadjuvantes passam a ser os principais. Claro que isto não é regra, temos atletas campeões Mirins que continuam ganhando, mas infelizmente é a grande minoria.
Esta inversão da curva gera um problema psicológico enorme. É muito difícil fazer com que um atleta que está acostumado a ganhar desde pequeno, continue treinando e se dedicando ainda mais quando ele passa a perder ou ter mais dificuldades em ganhar as provas. A maioria desiste e pára de nadar.
Mas, para mim, o maior problema realmente é a falta de programas esportivos. Vamos sediar uma Olimpíadas, mas alguém vê algum programa para detecção, fomento e manutenção de esportes no Brasil? Ainda vivemos de talentos. Não temos um programa nacional, ou mesmo estadual. Nem as federações ou confederações possuem um programa para desenvolvimento do esporte. Não temos instalações, objetivos a longo prazo, diretrizes ou qualquer coisa que pudesse fazer com que o esporte se difundisse e fosse realmente uma opção de vida para os jovens.
Nem as escolas ajudam, para elas o esporte é concorrente e não mais uma etapa na formação do indivíduo. Para se modificar uma prova para um atleta que vai disputar um campeonato brasileiro, paulista ou qualquer outro, é uma dificuldade. Os atletas quase sempre são penalizados por serem atletas. Tudo é mais difícil.
Agora, o que não podemos reclamar, são das oportunidades. Hoje elas são muito maiores do que há alguns anos e, se você quiser pode realmente viver do esporte, como atleta. O problema é que é muito difícil, então a maioria desiste no meio do caminho ou então nem se dispõe a tentar. A sociedade brasileira ainda só pensa em uma opção de vida, a faculdade. Não que ela não seja importante, claro que é, mas não é o único caminho e não é tão urgente que não possa esperar alguns anos. Se todos abrissem os olhos para as oportunidades que o esporte oferece, acho que poderíamos ter muito mais campeões na fase adulta.
Poderíamos conversar sobre este tema durante muito tempo mas, na minha opinião, estes são os fatores principais que nos fazem ter muitas crianças campeãs e poucos adultos de nível internacional.,
Se as Olimpíadas deixarem apenas como legado a cultura do esporte, já teremos ganho muito.
Abraços, até mais
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