O blog acaba de ganhar seu primeiro colaborador efetivo. Maico Cleber Cabestre vêm há algum tempo me pedindo matérias sobre os portadores de deficiência física, me mandou contatos e agora, me mandou várias matérias e artigos que colocarei aqui no blog.
Esta primeira postagem é uma crônica muito boa e muito gostosa de ler, que tenho certeza vocês curtirão.
Obrigado Maico, continue enviando matérias que certamente serão publicadas aqui.
Crônica do Professor Edgard de Oliveira Barros no Jornal Momento on-line das Faculdades FIAMFAAM.
Os diferente não são iguais.
Estava escrevendo e parei para almoçar. Liguei a TV no canal Sportv. Falava de esportes, claro. Apareceu um “craque” de futebol (craque? Tem disso hoje em dia?). Ganha, ao que eu li, uns trezentos mil bagarotes por mês. Vai ver que merece. Como não é do meu time, não me interessa quanto ganha. O time dele está nas últimas. Se continuar apanhando do jeito que está, vai cair, igual ao meu. O craque parecia suado. Teria saído do treino ou tinha acabado de tomar banho? Nunca se sabe.
À pergunta do repórter sobre a situação do seu clube, respondeu: “Estamos trabalhando duro...”. Engraçado que, agora, tudo quanto é jogador tem a mesma resposta na vitória ou na derrota: “Estamos trabalhando duro...”. Duro ou mole, eu acho que eles deveriam mesmo é parar de trabalhar e começar a jogar bola. Vai ver que aí é que está o problema do atual futebol brasileiro.
Desde que eu me entendo por gente, jogar bola nunca foi trabalho, era diversão. Deliciosa diversão por sinal. O Pelé adorava jogar até em treino.
Falando sinceramente, quando a pessoa encara a diversão como trabalho a coisa vai mal.
Penso que o trabalho deveria ser visto como diversão. Quem trabalha com gosto ou por gosto não cansa e se diverte. Agora, quando não se gosta do que se faz e não se trabalha com gosto, como diversão, não se vai para a frente, vai para trás.
O time dele está lá atrás. Aí mudou a cena da TV e o SPORTV colocou na tela aqueles rapazes e meninas diferenciados que estão competindo nas tais Paraolimpíadas da China. E apareceu um menino muito simpático, todo sorridente, o Daniel Dias, gloriosa figura! Pois é, o Daniel Dias é portador de um tipo de problema físico bem sério, tem apenas parte dos braços, não tem mãos, não sei e também não interessa, ele é diferenciado. Maravilhosamente diferenciado. Diferenciado em tudo, especialmente na alegria. Nadando, quase sem braços, esse garoto tão diferenciado, ganhou 9 medalhas. De ouro e de prata.
Quase igual, ou mais, não lembro, que aquele Phelps, garotão norte-americano, monstro sagrado das piscinas. Tenho certeza absoluta que o Daniel Dias não ganha os 300 mil bagarotes por mês. Nem por ano. Mas, se perguntarem, ele jamais vai dizer que “Estamos trabalhando...”. Não, o Daniel Dias nunca está “trabalhando”; está nadando, está fazendo o que gosta, está se divertindo. Gostoso. Como se fosse criança. Depois que mostrou o Daniel o SPORTV apresentou um garoto chinês, também diferente, e que também competiu nas Paraolimpíadas. O chinesinho é mais diferenciado ainda: não tem braços.
Isso mesmo, simplesmente não tem braços. Apesar de tudo, nada. Nada e muito. Nada com gosto. Nada com prazer. Se diverte. Passa a vida nadando. Nadando e ganhando medalhas. E ri. Feliz. Ele também não ganha 300 mil bagarotes por mês. 300 mil bagarotes por mês? Na China? Nem pensar. O chinesinho também não diz: “Estamos trabalhando...”.
Não, ele está é se divertindo, curtindo. Ele é ídolo chinês. É preciso gostar, e muito, de nadar. E nadar sem braços é coisa para heróis. Pois o chinesinho sem braços, que não ganha os 300 mil bagarotes por mês, já era herói antes da competição. O repórter contou que um dia ele passava perto de um rio e viu um garoto se afogando. Jogou-se na água e salvou o garoto da morte. Nadando, sem braços. Juro que naquele momento eu esqueci que estava almoçando. Aliás, esqueci de tudo, até da vida. Fiquei pensando que o mundo está muito cheio de iguais. E que esses iguais são tão iguais que dão até dó. Dão dó porque os iguais fazem o que fazem porque vivem “trabalhando”. Já os diferentes e diferenciados fazem porque vivem se “divertindo”. Estou convencido de que gosto cada vez mais dos diferentes. Os diferentes não são nada iguais, eles são realmente diferenciados.
Que Deus lhes dê todas as medalhas do céu e da terra.
Já para os que “Estamos trabalhando duro...”, que o inferno da segunda divisão lhes seja leve.
Autor: Professor Edgard de Oliveira Barros
Jornal Momento on-line FIAMFAAM
Os diferente não são iguais.
Estava escrevendo e parei para almoçar. Liguei a TV no canal Sportv. Falava de esportes, claro. Apareceu um “craque” de futebol (craque? Tem disso hoje em dia?). Ganha, ao que eu li, uns trezentos mil bagarotes por mês. Vai ver que merece. Como não é do meu time, não me interessa quanto ganha. O time dele está nas últimas. Se continuar apanhando do jeito que está, vai cair, igual ao meu. O craque parecia suado. Teria saído do treino ou tinha acabado de tomar banho? Nunca se sabe.
À pergunta do repórter sobre a situação do seu clube, respondeu: “Estamos trabalhando duro...”. Engraçado que, agora, tudo quanto é jogador tem a mesma resposta na vitória ou na derrota: “Estamos trabalhando duro...”. Duro ou mole, eu acho que eles deveriam mesmo é parar de trabalhar e começar a jogar bola. Vai ver que aí é que está o problema do atual futebol brasileiro.
Desde que eu me entendo por gente, jogar bola nunca foi trabalho, era diversão. Deliciosa diversão por sinal. O Pelé adorava jogar até em treino.
Falando sinceramente, quando a pessoa encara a diversão como trabalho a coisa vai mal.
Penso que o trabalho deveria ser visto como diversão. Quem trabalha com gosto ou por gosto não cansa e se diverte. Agora, quando não se gosta do que se faz e não se trabalha com gosto, como diversão, não se vai para a frente, vai para trás.
O time dele está lá atrás. Aí mudou a cena da TV e o SPORTV colocou na tela aqueles rapazes e meninas diferenciados que estão competindo nas tais Paraolimpíadas da China. E apareceu um menino muito simpático, todo sorridente, o Daniel Dias, gloriosa figura! Pois é, o Daniel Dias é portador de um tipo de problema físico bem sério, tem apenas parte dos braços, não tem mãos, não sei e também não interessa, ele é diferenciado. Maravilhosamente diferenciado. Diferenciado em tudo, especialmente na alegria. Nadando, quase sem braços, esse garoto tão diferenciado, ganhou 9 medalhas. De ouro e de prata.
Quase igual, ou mais, não lembro, que aquele Phelps, garotão norte-americano, monstro sagrado das piscinas. Tenho certeza absoluta que o Daniel Dias não ganha os 300 mil bagarotes por mês. Nem por ano. Mas, se perguntarem, ele jamais vai dizer que “Estamos trabalhando...”. Não, o Daniel Dias nunca está “trabalhando”; está nadando, está fazendo o que gosta, está se divertindo. Gostoso. Como se fosse criança. Depois que mostrou o Daniel o SPORTV apresentou um garoto chinês, também diferente, e que também competiu nas Paraolimpíadas. O chinesinho é mais diferenciado ainda: não tem braços.
Isso mesmo, simplesmente não tem braços. Apesar de tudo, nada. Nada e muito. Nada com gosto. Nada com prazer. Se diverte. Passa a vida nadando. Nadando e ganhando medalhas. E ri. Feliz. Ele também não ganha 300 mil bagarotes por mês. 300 mil bagarotes por mês? Na China? Nem pensar. O chinesinho também não diz: “Estamos trabalhando...”.
Não, ele está é se divertindo, curtindo. Ele é ídolo chinês. É preciso gostar, e muito, de nadar. E nadar sem braços é coisa para heróis. Pois o chinesinho sem braços, que não ganha os 300 mil bagarotes por mês, já era herói antes da competição. O repórter contou que um dia ele passava perto de um rio e viu um garoto se afogando. Jogou-se na água e salvou o garoto da morte. Nadando, sem braços. Juro que naquele momento eu esqueci que estava almoçando. Aliás, esqueci de tudo, até da vida. Fiquei pensando que o mundo está muito cheio de iguais. E que esses iguais são tão iguais que dão até dó. Dão dó porque os iguais fazem o que fazem porque vivem “trabalhando”. Já os diferentes e diferenciados fazem porque vivem se “divertindo”. Estou convencido de que gosto cada vez mais dos diferentes. Os diferentes não são nada iguais, eles são realmente diferenciados.
Que Deus lhes dê todas as medalhas do céu e da terra.
Já para os que “Estamos trabalhando duro...”, que o inferno da segunda divisão lhes seja leve.
Autor: Professor Edgard de Oliveira Barros
Jornal Momento on-line FIAMFAAM
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